quinta-feira, 29 de abril de 2010

Quando Drogba acabou com a guerra civil na Costa do Marfim

Do UOL Esporte
Em São Paulo
  • Atacante propôs que jogo fosse disputado na sede rebelde e conseguiu acabar com a guerra em 2007

    Atacante propôs que jogo fosse disputado na sede rebelde e conseguiu acabar com a guerra em 2007


A importância do astro Didier Drogba para a Costa do Marfim não se restringe aos limites do gramado. O atacante do Chelsea, da Inglaterra, já conseguiu usar o futebol como arma para acabar com uma guerra civil que se arrastava por cinco anos no seu país.

O episódio ocorreu em março de 2007, no confronto contra Madagascar, em partida válida pela qualificação da Taça das Nações Africanas. Mas não era apenas a vitória que estava em jogo. Na época, o craque exigiu que a partida fosse disputada em Bouaké, que era conhecida como a capital da rebelião.

A cidade era sede das tropas rebeldes do norte, de origem islâmica e com menor poder aquisitivo. Os guerrilheiros enfrentavam o exército do governo, ao sul do país, ligado ao cristianismo e às classes mais favorecidas. A nação ficou dividida numa guerra sangrenta, que só acabaria por causa da paixão do país pelo futebol.

O jogo no Bouaké Stadium uniu rebeldes e simpatizantes ao governo durante um período de cessar fogo. Um tanque rebelde conduziu a seleção liderada por Drogba ao estádio. E, antes do começo da partida, 25 mil fãs cantaram o hino do país.

Na tribuna do estádio, o presidente Laurent Koudou Gbagbo ficou ao lado do guerrilheiro Guillaume Kigbafori Soro, que hoje é primeiro-ministro do país. A Costa do Marfim goleou Madagascar por 5 a 0. No dia seguinte, os jornais marfinenses noticiavam: “Cinco gols para acabar com cinco anos de guerra”. Na ocasião, Drogba disse: “Foi como se a Costa do Marfim tivesse renascido”.

Era o desabafo de um jogador que se tornou herói de uma nação ao conseguir fazer com que a paixão pelo futebol se tornasse algo maior e mais nobre. A emoção tomou conta até mesmo dos soldados rebeldes que conduziram Drogba para fora do estádio. Muitos deles apertaram a mão do ídolo.

Outros puxaram câmeras fotográficas para registrar o momento em que uma partida de futebol ganhou outro significado. “Drogba e a seleção conseguiram fazer em 90 minutos o que os políticos não conseguiram fazer durante anos: unir a Costa do Marfim”, disse Guy Denis Koné, rebelde das forças de oposição, que assistiu ao jogo no estádio.

As tropas do governo ficaram nas arquibancadas, para simbolizar a união do país. Era a primeira vez que os soldados do governo estiveram na capital rebelde desde o começo da guerra civil. E a primeira vez que os dois inimigos estiveram lado a lado, sem animosidades.

“Quando eu cheguei aqui, senti apreensão e esperança ao mesmo tempo”, disse o oficial Christophe Diecket, em entrevista à revista Vanity Fair. “Ocorreram muitas mortes. Nós sabíamos que era o momento de deixar essa guerra de lado. Isso não poderia ter sido feito por outra pessoa. Apenas Drogba. Foi ele que nos curou dessa guerra”.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Haiti: Entre o sonho da liberdade e a tragédia do mundo real

Ajuda humanitária: possibilidades e dificuldades

Por Ederson Santos Lima- Texto extraído do site: www.portalpositivo.com.br
22/01/2010

Estimativas que vão desde cem mil até duzentas mil vítimas fizeram com que a própria ONU considerasse o terremoto do Haiti como a pior tragédia já enfrentada pela organização em toda a sua história. Colocar o país novamente nos trilhos não será tarefa fácil e muito menos barata. A ONU divulgou que serão necessários 560 milhões de dólares em doações para o trabalho humanitário.


Foto da Bandeira da Cruz Vermelha
Bandeira da Cruz Vermelha.
©Glow images/Dpi imagens

Remédios, comida, água, camas, colchões, roupas, barracas, material para resgate, máquinas para retirar os escombros das construções demolidas, enfim todo tipo de ajuda é necessário. Mas como chegar até a ilha caribenha se a estrutura do único aeroporto foi parcialmente destruída? Se poucas estradas são pavimentadas? Se gangues urbanas ( streets gangs ) voltaram com força após a missão brasileira no país as ter controlado?

O desastre do Haiti tem concentrado, acima das expectativas, esforços de todas as entidades possíveis: governos (dezenas de países), ONGs (como, por exemplo, Médicos Sem Fronteiras, Cruz Vermelha Internacional, Viva Rio, entre outras), bancos de fomento como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), além de empresas particulares (como a GM) e também pessoas (como os atores Brad Pitt e Angelina Jolie e a modelo Gisele Bündchen) que, isoladamente, têm doado dinheiro de forma voluntária. No caso norte-americano, ocorreu a maior doação via celular da história: em poucas horas, 10 milhões de dólares foram arrecadados pela Cruz Vermelha através de um número especialmente criado para esse fim e para o qual os cidadãos enviavam torpedos com a palavra haiti.

Mas como organizar todo esse volume de dinheiro? Como distribuir remédios e comida? Como acomodar o interesse dos países e governos que estão se mobilizando na área, como Brasil e EUA?

A primeira pergunta seria facilmente respondida se o Haiti tivesse um governo regularmente estabelecido e em condições de gerenciar os recursos. Mas, infelizmente, essa não é a realidade. A sede do governo foi destruída pelo terremoto e há poucas pessoas capazes desse trabalho no staff governamental local. Além disso, os altíssimos índices de corrupção — que, segundo a Transparência Internacional, fazem com que o Haiti ocupe a 168º posição em um ranking entre países corruptos — geram certa intranquilidade entre possíveis doadores.

Alguns propõem que o dinheiro arrecadado seja administrado por uma comissão externa a todos os envolvidos na ajuda humanitária, outros defendem a ideia de que os haitianos e a Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) gerenciem os recursos e, para outros ainda, Brasil, os EUA e o governo do Haiti devem somar esforços de forma conjunta no controle e gerenciamento dos recursos.

Essa situação, que à primeira vista poderia ser interpretada como de fácil resolução, não é. Um exemplo disso é o caso do aeroporto de Porto Príncipe, ocupado por tropas norte-americanas que passaram a controlar pousos e decolagens. Elas têm sido acusadas por vários países, como Brasil, França e Argentina, de estarem dificultando os pousos com ajuda humanitária desses países e priorizando o desembarque de soldados norte-americanos e a saída de cidadãos estadunidenses. Alguns aviões estão levando até quatro horas para conseguir pousar em solo haitiano. Pelo menos essa questão já foi resolvida parcialmente: os americanos ficaram com o controle interno do aeroporto, inclusive dos radares, e o Brasil com a responsabilidade pela área externa desse local.